Terça, 06 Outubro 2015 10:31
EUA, JAPÃO E MAIS 10 PAÍSES FECHAM ACORDO COMERCIAL REGIONAL HISTÓRICO
Escrito por Redação
Pablo Martinez
Monsivais/Associated Press Anterior
Após oito anos de negociações,
Estados Unidos, Japão e mais 10 países fecharam em Atlanta, EUA, a Parceria
Transpacífico, no que o jornal americano "The New York Times" definiu
como o maior acordo comercial regional da história.
A aproximação entre esses parceiros, formalizada nesta segunda-feira
(5), pode fazer com que o Brasil tenha mais trabalho para conseguir espaço para
alguns de seus produtos, como frango e açúcar, em mercados importantes (leia
mais abaixo).
Discutida por cinco dias seguidos, a TPP, na sigla em inglês, abrange
40% da economia global. O texto final deve ser disponibilizado dentro de um
mês.
Além da derrubada de barreiras tarifárias entre os países, o tratado
prevê regras uniformes de propriedade intelectual e ações conjuntas contra o
tráfico de animais selvagens e outras formas de crimes ambientais, por exemplo.
Países inclusos na Parceria Transpacífico
Com isso, tem o potencial de influenciar desde o preço do queijo ao
custo de tratamentos de câncer.
Ele inclui, além de EUA e Japão, Austrália, Brunei, Canadá, Chile,
Cingapura, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru e Vietnã.
Economias asiáticas como a Coreia do Sul, Taiwan e Filipinas, e
sul-americanas como a Colômbia, já estão na fila para aderir.
O acordo ainda deve passar por discussão no Congresso americano e
Parlamentos de outros países envolvidos. Caso seja aprovado, pode vir a ser uma
das maiores conquistas do governo do presidente Barack Obama e deve ajudar a
contrabalançar a influência chinesa sobre o comércio no Pacífico.
REPERCUSSÃO
O brasileiro Roberto Azevedo, diretor-geral da OMC, parabenizou os
países da TPP e disse que o acordo prova que é possível alcançar consenso entre
países com interesses diversos quando existe "vontade política e
determinação".
Para outro brasileiro, o economista Maurício Mesquita Moreira, do setor
de integração e comércio do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), a
TPP deixa claro para onde caminha o comércio mundial, com novas regras
estabelecidas pelo bloco liderado pelos EUA.
"Há o objetivo claro de sinalizar para a China que, se quiser
continuar participando do comércio global, em algum momento vai ter que se
ajustar a essas novas regras."
GRUPO DE PESO
Os membros da TPP são destino de quase um quarto dos embarques
brasileiros
IMPACTO SOBRE O BRASIL
Segundo José Luiz Pimenta, professor da ESPM especialista em comércio
exterior, o maior impacto do tratado deve vir da adoção de normas comuns de
produção entre os países. Com isso, sua influência sobre os negócios vai além
da mera derrubada de tarifas.
"Uma série de regras jurídicas comuns dão previsibilidade para
negócios de longo prazo e facilitam o investimento. Você pode exportar peças
dos Estados Unidos e se beneficiar das cadeias regionais para que a montagem
final aconteça nesses países."
De fora do tratado, o Brasil pode perder espaço para seus produtos.
"O Brasil fez um grande esforço recentemente para atender o mercado
asiático de carne de frango, mas agora esses países podem começar a focar nas
trocas entre si", diz.
De acordo com os detalhes do acordo divulgados pela Casa Branca, a TPP
vai eliminar mais de 18 mil impostos e tarifas cobrados sobre os produtos
norte-americanos nos países envolvidos. Isenta, por exemplo, a cobrança de
tributos sobre as importações de produtos do setor automotivo, que chegam a 70%
atualmente.
Segundo Pimenta, o Brasil tem fechado acordos comerciais com mercados
menores, como Colômbia e México. O foco tem sido principalmente na derrubada de
barreiras, em detrimento da adoção de normas comuns.
A rodada final de negociações da TPP em Atlanta, que começou na
quarta-feira, se debruçou sobre a questão de quanto tempo de duração deve ser
permitido para a manutenção de monopólio de novos medicamentos de
biotecnologia, até que os Estados Unidos e a Austrália negociem um acordo.
Também estiveram em pauta a derrubada de barreiras nos mercados de
laticínios e açúcar e a queda gradual, ao longo de três décadas, de impostos de
importação de carros japoneses vendidos na América do Norte.
LIVRE-COMÉRCIO NO PACÍFICO - Países que representam 36% do PIB global
fecham acordo comercial
MERCADO DE AÇÚCAR
Sob a TPP, a Austrália receberá uma cota adicional de 65 mil toneladas
anuais para exportar açúcar para os Estados Unidos, disse à agência de notícias
Reuters uma autoridade australiana com conhecimento das negociações.
Com isso, o produto brasileiro pode vir a ter mais trabalho para
encontrar espaço no mercado americano, avalia Pimenta, da ESPM —apesar de os
Estados Unidos serem irrelevantes para as cerca de 22 milhões de toneladas
exportadas em 2014 pelo Brasil.
O volume soma-se às 87,4 mil toneladas já destinadas à Austrália sob o
regime de tarifas vigente para o ano comercial que começou em 1º de outubro.
A Austrália poderá enviar 400 mil toneladas de açúcar para os Estados
Unidos anualmente até 2019, no cenário mais otimista, disse a fonte.
Sob os termos do acordo, a
Austrália também receberá 23% da cota arbitrária, que é baseada na demanda
norte-americana sob regime de tarifas, disse a autoridade. O percentual
compara-se aos atuais 8%.
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